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Climate change: how it is going to affect viticulture in the Douro Valley

Quinta Vale d'Agodiho, FerradosaNota do Editor: Um destes dias, quando ia com o Luiz Alberto de carro do Porto para o Douro, demos por nós a falar na influência que a erupção em Abril de 2010 do vulcão islandês Eyjafjallajökull teve no clima global bem como na maturação das uvas no Douro, em 2010. Outros temas se falaram. Até que a certa altura desafiei-o a escrever um ensaio sobre em que medida é que a mudança climática vai afectar a viticultura no Douro. E aqui está o texto do Luiz, retirado do seu blog My Wine Studies. É longo, eu sei, mas vale bem a pena ser lido. Oscar

Quando se fala de mudança climática, as variações naturais do clima nunca devem ser postas de lado. Há a “variabilidade do clima”, que se refere às mudanças no comportamento do clima num certo lugar, de um período para outro. Contudo, a mudança climática devido à actuação do Homem é uma realidade e vai ter um grande impacto e muitas implicação em todo o planeta. Os países que mais vinho produzem – Itália, França, Espanha, EUA e Austrália – estão todos em risco. As videiras são extremamente sensíveis a todas as alterações relacionadas com a mudança do clima, mas neste ensaio, vamos fazer uma análise microscópica e apenas será discutido em que medida vai afectar a viticultura no Douro. Esta discussão trata daquilo que é necessário fazer num cenário em que as temperaturas são mais altas (com um aumento da frequência de dias muito quentes), as secas são mais severas, e há um aumento da evaporação à superfície. É necessário direccionar esforços para manter a vitivinicultura viável e rentável nesta região com longa tradição.

O aumento da temperatura pode ter um efeito dramático na videira e, em geral, a solução para as temperaturas mais altas tem sido simples: vá para cima (tanto em altitude como em latitude) e passa a ser reestabelecido o  local ideal para uma certa casta. Esta regra certamente que se aplica ao Douro, onde a altitude das vinhas pode variar entre os 100 e os 700 metros. O Douro apresenta outra vantagem em relação a outras regiões vitícolas: a exposição solar é adaptável e é certamente outro dos remédios para os problemas que vão surgir. Uma possível solução poderá ser o abandono dos terrenos com exposição a sul, os quais são demasiado quentes (ou experimentar uma gestão mais drástica da rebentação da videira, incluindo sobreamento), e replantar nas zonas mais frescas com exposição ao norte. O vale oferece uma exposição de 360º, mas uma adaptação mais rápida ao novo cenário vai ser determinante para uma transição com sucesso (vários anos serão necessários para a transição completa, requerendo novas plantações). A grande maioria das novas plantações no Douro Superior (onde a precipitação média chega a ser de 1/3 do Baixo-Corgo) é já com exposição ao norte. As famosas vinhas da Quinta de Vargellas e da Quinta do Vesúvio estão ambas na margem sul com exposiçao ao norte.

No mundo dos vinhos tudo vai muito devagar (são necessários anos para que uma videira comece a dar vinho e muitos mais para que o vinho seja bom), daí a necessidade de se começar a actuar desde cedo. O resto do mundo vai também responder às mudanças climáticas. A eficiência da adaptação é crucial. Uma região tão tradicional como o Douro necessita de adaptar-se rapidamente e mostrar flexibilidade. Algumas leis tornar-se-ão desactualizadas e inapropriadas. Estas leis não farão sentido à luz das novas condições ambientais e terão de ser eliminadas. Por exemplo, há significantes diferenças fisiológicas e morfológicas entre as variedades de Vitis vinifera. Aquelas que são permitidas (ou recomendadas) para ser plantadas têm de ser reavaliadas ao longo do tempo. Há centenas de castas em todo o Portugal. As que são menos sensíveis ao stress hídrico e às altas temperaturas têm de ser favorecidas em relação àquelas que não têm um comportamento tão bom nestas condições (Tinta Barroca ou Tinta Francisca). Contudo, para mitigar este problema, é também possível utilizar porta-enxertos que são mais resistentes à seca (em termos relativos). Assim, o R110 está a tornar-se mais popular no Douro. Era já utilizado no passado (juntamente com o 1103P), mas nos últimos tempos tem havido uma preocupação por parte dos viticultores em utilizar porta-enxertos tolerantes à seca, e não necessariamente indicados para maiores quantidade ou qualidade.

As altas temperaturas, numa região já de si quente, vão inevitavelmente ter consequências negativas no curto-prazo (ao contrário de uma região como, por exemplo, o Mosel onde o aumento do calor está a fazer crescer o número de vindimas de grande qualidade nas últimas décadas): queda nos valores de acidez total (especialmente ácido málico) e aumento do nível de açúcar (que por sua vez produzirá vinhos mais alcoólicos). A vindima temporã é uma possibilidade para minimizar o problema, mas o resultado serão vinhos com uma maturação fenólica incompleta, com taninos mais agudos e verdes. Uma vez mais, castas diferentes (ou clones de uma casta já existente) e porta-enxertos mais resistentes à seca terão de ser plantados. Estas novas plantações vão ter um desempenho melhor nestas condições ainda mais quentes. Castas com maturações teporãs estão mais susceptíveis ao stress hídrico e podem ter alguns problemas dentro da região. A gestão da matéria verde da videira poderia ser uma opção, reduzindo a luz solar e aumentando o sombreamento das uvas. Contudo, o aumento dos rebentos também leva a maior desidratação, sendo uma faca de dois gumes.

Mas a temperatura não é o único efeito directo da mudança climática:

– ocorrência de elevada precipitação pode levar a danos nas vinhas (devido à erosão). Estudos mostram que estas ocorrências tenderão a tornar-se mais frequentes, tornando-se incomportavelmente caro (e intensivos em mão-de-obra) reparar os muros dos socalcos e patamares da região

– rebentação antecipada pode causar grandes efeitos, aumentando o risco de geadas nalgumas castas como o Tinto-Cão. Além disso, se o ciclo começar mais cedo, terminará igualmente mais cedo, significando que a vindima terá lugar mais cedo, num período ainda mais quente do ano. Isto pode levar a redução da qualidade das uvas, devido a uma elevada perda de água e componentes voláteis. A vindima nocturna poderia ser uma opção, mas quem se arrisca a vindimar à noite em terrenos tão acidentados?

– as datas entre castas com maturação precoce (Tinta-Barroca e Bastardo) e tardia (como a Touriga Franca e o Tinto-Cão) tornar-se-ão mais próximas. Dado que as castas com maturação mais tardia tendem a ser mais sensíveis ao aumento da temperatura que as de maturação mais precoce, haverá complicações na gestão da entrada das uvas na adega.

– prevê-se que os níveis de pluviosidade se tornem mais irregulares no Douro com a consequente redução da água disponível. Parece haver um consenso que a necessidade de rega das vinhas tenderá a aumentar com o aquecimento e secas consequência da mudança climática. Dado que a rega no Douro é actualmente ilegal, as autoridades deverão considerar uma alteração da legislação. Parece que o IVDP (Instituto dos Vinhos do Douro e Porto) está disponível para analisar a possibilidade de autorizar a rega em alguns casos onde seja provado que a rega leva claramente à produção de vinhos de melhor qualidade. Há já algumas vinhas onde a rega está a ser testada. Um exemplo é a Quinta de Ervamoira da Adriano Ramos Pinto. Outro exemplo são os testes que a Quevedo está a fazer na Quinta das Olgas, no Douro Superior, desde 2007. Ainda que quatro anos seja um período muito curto, puderam já verificar que algumas vinhas tiveram um desempenho melhor quando regadas, acabando por gerar uvas e vinhos de melhor qualidade. Um bom exemplo ocorreu na vindima de 2010: parte da Quinta das Olgas foi regada, enquanto que a restante vinha ficou a aguardar água da chuva. A parte que não foi regada não conseguiu completar o processo de maturação, deixando muitos cachos totalmente secos. A parte regada produziu cachos com boa concentração de antocianas e componentes fenólicos, que se traduziram em boas cores e aromas.

– enquanto que a rega parece ser uma solução para mitigar o problema das secas mais recentes e habituais, há uma necessidade real de trabalhar medidas que promovam a sustentabilidade da oferta de água em toda a região.

As autoridades e as pessoas do Douro deveriam coordenar-se num esforço conjunto para mitigar estas condições adversas. Como Pancho Campo MW disse A tecnologia de que dipomos hoje em dia tem que estar à disposição do problema, procurando uma maior eficácia dos sistemas energéticos, reduzindo ao máximo as emissões de gases de estufa, desenhando novos combustíveis e promovendo a reciclagem, a reflorestação, etc. A indústria internacional tem que investir na adaptação a novas tecnologias que mitiguem os efeitos das mudanças climáticas e, a nível económico, há que desenvolver planos de incentivo e reduções fiscais para fomentar a adaptação. Políticos, científicos e economistas devem concertar esforços.” O lucro é o motor da indústria do vinho (e de qualquer indústria), mas mostrar que uma adega está a fazer “a sua parte” na preservação do sistema é igualmente essencial. Os consumidores estarão atentos às políticas adoptadas para combater as emissões de dióxido de carbono, onde quer que estejam. As expectativas são altas e caso se falhe poder-se-á comprometer a imagem de toda a região. Não só é necessário encontrar soluções que se adaptem às condições desfavoráveis que o futuro trará, mas também para fazer todo o esforço possível de modo a que o trajecto que se escolha seja o que menos consequências negativas tenha.

Por Luiz Alberto, disponível em My Wine Studies

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